Bio-geografia: uma história de vida em andamento

Ele nasceu em Tupaciguara, no interior de Minas Gerais, lá pela região oeste mais conhecida como Triângulo Mineiro porque alguém enxergou um triângulo na parte a esquerda do mapa do estado. Seria um triângulo bizarro, deitado, cansado de guerra, disforme. Mas é uma das regiões mais prósperas do interior do país.

Não se pode dizer o mesmo da pequena Tupaciguara. Os moradores mais entusiastas podem até querer provar o contrário, mas a verdade é que a simpática cidadezinha não consegue progredir. Seja pelo coronelismo enraizado por tantos anos, depois pelas oligarquias políticas, seja porque a cidade acaba tendo um "dono" a cada 4 anos.

Mas foi ali que ele cresceu rodeado de mulheres. Para começar já tinha três mães, uma mais aguerrida que a outra. Elas que não limitaram nenhum esforço pra cuidar dele. Tem uma irmã mais velha e parceira de uma infância inteira. Duas irmãs mais novas e uma sobrinha. Demorou anos para que outro homem entrasse pra família, seu afilhado Davi.

A partir de Tupaciguara, ele explorou toda aquela região.

Quando criança, caiu de uma cadeira. Os familiares assustados vieram socorrer. Ele, muito esperto, deu de se levantar mancando. Era um interpretação digna de uma Framboesa de Ouro (premiação humorística que "consagra os piores do cinema, incluindo o pior ator). Apesar disso, todos ficaram apavorados. E na falta de boa estrutura de saúde na cidade pequena, o jeito foi levar o menino-manco para a cidade grande. Lá fomos nós para Uberlândia, que fica a 60 quilômetros dali. Ao descer do carro na porta do Hospital das Clínicas, ele andava normalmente. Na verdade ele só queria viajar. Ver os prédios da cidade grande.

Entre a pré-adolescência e a adolescência, entrou para um grupo de teatro. Fazia sempre os papéis principais. Não dá pra saber se era por talento ou por coragem além da conta. Com as peças do grupo, viajou pela microrregião se apresentando em Araguari, Ituiutaba, Araporã e também em Uberlândia.

Mas as estradas ainda o conheceriam melhor. Ao entrar para o LEO Clube viajou por sete estados do país. LEO é um movimento de jovens com presença mundial. Tem o objetivo de formar líderes por meio da promoção de serviços voluntários nas comunidades. A instituição apadrinhada pelo Lions Clube, possui uma organização distrital onde poderíamos dizer que um clube é uma cidade, um distrito é um estado e o distrito múltiplo é um país. Pra gerir tudo isso, existem cargos de liderança que dão experiência aos jovens de 12 a 30 anos que os ocupam. Nas viagens pelo LEO Clube, ele conheceu muitas cidades. Mais de 20 na região oeste de Minas. Várias cidades satélites de Brasília, incluindo a capital federal. Várias nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Conheceu praias no litoral da Bahia, Sergipe e Alagoas. Foi pelo LEO Clube que pisou pela primeira vez em várias das cidades históricas de Minas, incluindo a capital.

Quando se qualificou para fazer a faculdade de Jornalismo em Uberaba, foi graças à sua atuação no LEO Clube que conseguiu um emprego que ajudaria a sustentar a vida universitária. Se mudou para aquela cidade onde já tinha alguns amigos, fez outros e encontrou o amor.

Por quase seis anos, ele morou em Uberaba e Uberaba passou a morar nele pra sempre. Lá trabalhou como analista de dados com Excel em nível avançado, depois foi se dedicar a comunicação fazendo estágio da universidade e, por fim, na TV. Entrou estagiário na Band Triângulo e logo se tornou editor-online, depois editor-chefe. Era um sonho dele ser o "fechador" de um jornal e ele conseguiu isso com muita brevidade.

No mapa da vida, talvez seja possível visualizar como na "previsão do tempo" uma massa de afeto pairando sobre a cidade de Uberaba. Foram tantos bons momentos ali e também fora dali.

A partir das experiências de Uberaba, viajou pelo Norte de Minas, conheceu o Velho Chico e lembrou-se do pensador Heráclito.
"O homem que volta ao mesmo rio, nem o rio é o mesmo rio, nem o homem é o mesmo homem."
Desbravou um Brasil turístico. Florianópolis, Araxá, Rio Quente e litoral do Espírito Santo. Soube que há mar em alguns desses lugares e que "amar" em todos eles.

Se formou em Jornalismo depois de escrever "Memórias e personagens do primeiro curso de jornalismo de Minas Gerais", um livrorreportagem para o Trabalho de Conclusão de Curso que também continha um web-documentário de texto e vídeo. Alcançou a nota máxima e encheu de orgulho as oito mulheres da vida dele.

Foi promovido no trabalho e se mudou para Uberlândia, aquela cidade que na infância ele se esforçara pra visitar nem que fosse por algumas horas. A partir dali cresceu profissionalmente, aprendeu e errou muito. Desenvolveu um certo vício por ansiedade e estresse que só traria efeitos severos anos mais tarde. Até então, eram até bem-vindos.

Viajou ainda mais, subiu no mapa e conheceu o litoral do Rio Grande do Norte de "Redinha a Ponta Negra... Maracajaú... Jenipabu...". Depois conheceu Franca no interior de São Paulo. E morou por um mês em Patos de Minas antes de retornar novamente para Uberlândia.

De emprego novo, se tornou supervisor de marketing na TV Vitoriosa. Logo na primeira semana a trabalho, foi conhecer as águas termais de Olímpia, no interior de São Paulo. Numa virada de ano, teve o prazer de ver de perto os fogos de Copacabana no Rio.

Meses depois, chegou a hora de se reencontrar com a capital Belo Horizonte e passou a trabalhar novamente como editor-chefe na Band Minas. Foi a hora de explorar as Gerais de uma forma mais intensa. Nasceu em Belo Horizonte uma das criaturas que mais amou na vida. A chow chow Valentina passou a ser sua companhia frequente nas caminhadas pelo bairro Buritis ou pelo parque municipal. Ele descobriu muitas coisas na vida desde que passou a conviver com Valentina e sente um orgulho imenso por isso.

A partir da capital, desbravou a geografia brasileira nos litorais de Alagoas e de São Paulo. Se apaixonou por Ilhabela e pretende morar lá um dia.

Pouco tempo depois, já dava expediente em outra capital. Passou a ser chefe de redação e também editor-chefe em Goiânia. Na capital do talento sertanejo encontrou inúmeros outros talentos e amigos. E perdeu dois amores. Valentina morreu depois de muita luta e parceria. Outro amor deixando rastros imperceptíveis a olho nu. Paciência e tempo.

Mas também foi a partir de Goiânia que rompeu um pedacinho do continente pra conhecer Fernando de Noronha. Há uma mistura de sentimentos em relação a essa lembrança, o que é assunto para outras publicações. Depois de Noronha, realizou o sonho de ver como é uma cidade litorânea e ao mesmo tempo histórica. Foi em Paraty no Rio de Janeiro que viu o ano de 2017 chegar. Seria aquele um ano tão inesquecível quanto difícil.


Nas voltas que a vida dá, retornou a Uberlândia onde reativou este blog, fez sua primeira tatuagem e passou a se dedicar à vida saudável. Percebeu a duras penas que o vício em ansiedade e estresse pode causar danos irreparáveis na vida. Partiu numa jornada com 117 quilos de bagagem. Aprendeu a cuidar da saúde de dentro pra fora, incluindo a preocupação com corpo e mente.


Três meses depois, quando conseguiu eliminar 21 quilos de bagagem inútil, decidiu que poderia dizer aos outros que o desafio não tão difícil assim. Mas mais que isso. Dizer que as vantagens vão muito além de parecer bonito e dentro dos padrões que a sociedade tenta impor. Alcançar o equilíbrio entre corpo e mente é uma tarefa sem fim. Mas que produz benefícios durante a própria tarefa. É mais ou menos o que diz aquela canção famosa por fazer a gente chorar.
"Pra não perder a magia de acreditar na felicidade real e entender que ela mora no caminho e não no final."
A geografia da escola nunca foi meu forte. Mas eu não poderia ter encontrado maneira melhor de descrever algumas coisas pelas quais passei nos últimos 29 anos sem que pudesse usar dos mapas e fronteiras que a geografia criou pra facilitar o mundo e que acabaram facilitando a minha narrativa.

Espero poder continuar a percorrer cidades conhecidas e desconhecidas. Espero poder encontrar talento, amigos, histórias e experiências a partir deste blog.

A data de publicação é fictícia por se tratar de um texto em constante construção.

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