Os olhos têm a suave cor do mel e quando ela se emociona as lágrimas parecem descer à boca inundando os lábios de uma doçura infinita. Quando sorri, além de brindar-me com o brilho dos dentes bem cuidados, acentua na margem superior da pele sobrancelhas que transferem ao rosto a alegria que sente o coração. Os cabelos exalam um perfume natural e quando iluminados pelo sol refletem um brilho estonteante que os confirmam sedosos e me permitem acariciá-la até o sono profundo. O queixo pontiagudo faz meu olhar passear por sua mandíbula até chegar à orelha que leva seu corpo aos arrepios sob a ânsia sedenta de meus suspiros e murmúrios.
O pescoço, esticado pelo gozo íntimo e suave do toque voraz de minha língua, traduz um convite a aceitar o meu corpo no dela ao que eu respondo mergulhando em seu colo e encontrando seios que me fazem conduzir as mãos até que eu possa apertá-los com a aflição de uma primeira vez. E nesse mesmo ímpeto, deslizo meu nariz em todas as voltas daquele corpo nu a fim de aprisionar em mim a fragrância que emana do prazer que sentimos.
Não suportando mais trancar a garganta e limitar-se a gemidos desesperados, ela roga que eu a abrace com a força e intensidade do amor que sinto e faz-me doer os ombros quando crava-me as unhas de gume cortante e faz-me esquecer a dor ao afastar as pernas uma da outra entrelaçando-me e concedendo-me a dádiva da volúpia que transcende à carne.
Excedo seus limites, me entrego ao deleite. Eu, fazendo com que meus lábios conheçam cada fragmento escondido de sua cútis; ela, percorrendo meu corpo e se fazendo a mulher mais feliz do mundo. Eu, esbravejando versos elogiosos, profanos, pornográficos; ela, afirmando a sensação de satisfação e demonstrando o desejo de elevar-se ao ápice enlouquecedor peculiar à ocasião. Eu, padecendo de ânsias, reles, ordinário; ela, assustada com seu próprio fervor, excitada, lascívia. Nós dois, rendidos a uma disposição afável, embebidos por suor, fantasiados pela magia da paixão, sufocados.
E quando a sentença se anuncia perversa, impetuosa, medonha, rude, chocante, bárbara... chegamos ao instante do gozo que reúne todas as qualidades concebíveis, do grito que alardeia, das mãos que estremecem, das pernas que bambeiam, do sorriso recíproco que satisfaz. O instante em que meu mais alto grau de excitação depara-se com o acme atingido por ela.
No acalmar do quarto, ao abater-me sobre seu torso, ouço tão somente nossas respirações ofegantes, plenas, saciadas. Mal cobertos por um lençol, imaginamos ser os humanos mais dignos da existência quando ela recosta-se sobre meu âmago, empenhada em gerir o elemento essencial àquele instante, suportando meus braços que ocupam-se dela e ela abrangendo-me com as mãos, o olhar voltado ao meu e as vozes produzem um veredicto em uníssono: Eu te amo!
Comentários
Belo texto.