Crônica: Vaca Pirata

Chego em casa apressado, preciso ver no computador se terminou o download da terceira versão pirata do “Tropa de Elite”. O filme, não lançado oficialmente, está sendo muito comentado e já foi visto por 15 milhões de pessoas, muito mais do que qualquer bilheteria de estréia em cinema de qualquer outro filme no Brasil.

Acesso a internet com o Explorer falso dentro de um Windows pirata e digito esta crônica no Microsoft Word 2007 de um Office que não é original. Na minha pasta pessoal intitulada de “MP3” ouço todas as músicas que quero no momento que quero e não paguei nada por elas; agora vou acessar um site hospedado no exterior que, por esta razão, não está sujeito às penalidades de pirataria previstas na legislação brasileira, e baixar na íntegra a revista Veja que saiu ontem.

Sinto-me na supremacia da esperteza humana, tudo isso sem mencionar os perfumes, as roupas, os óculos que às vezes são até adquiridos como sendo originais em preços super promocionais que na verdade também são falsificados. Tudo certo, o mundo evolui mais a cada dia que se passa e eu vou vislumbrando o dia em que não terei que comprar quase mais nada, será perfeito, tenho tudo o que quero sem que a mim seja gerado nenhum ônus.

Pego o carro, vou passear um pouco. Antes, passo na padaria e tomo aquele copo de leite puro e ainda como um pão com muçarela, gosto assim.

Novamente tudo certo até o carro emperrar, não anda, não liga mais, não faz nada, o mecânico deu o parecer dele: “gasolina adulterada” – é um absurdo, onde vai parar este país que nem mesmo num posto de gasolina pode-se confiar, pago o meu combustível com muito trabalho e ainda terei gastos com a troca do motor. Depois dessa notícia o melhor a fazer é voltar para casa, de táxi. Ligo a TV e assisto ao Telejornal que me diz na manchete que o leite que tomei na padaria continha soda cáustica e água oxigenada, é estranho sentir-se loiro por dentro e é pior saber que a mussarela também está adulterada.

Este país está uma corrupção só, não dá mais para viver em meio a tantas fraudes que nos matam aos poucos mas, depois desse dia de cão o melhor que faço é ligar novamente o computador e ouvir um “MP3” só pra relaxar um pouco.

Crônica publicada no REVELAÇÃO, jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba, ano passado em um especial só de crônicas.

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