A noite do Oscar é sempre histórica

Só se falava em “Avatar”. O filme do premiado diretor James Cameron despontava como franco favorito a levar as principais estatuetas do Oscar 2010, sobretudo as principais, de “Melhor Diretor” e “Melhor Filme”.

“Guerra ao Terror” não teve a mesma penetração que os “azuis” em muitos países do mundo. No Brasil, nenhuma sala de cinema exibira a película até então.

Nada como uma noite enfartada de glamour para a história mudar. Astros de Hollywood e de todos os cantos do cinema mundial desfilaram pelo tapete vermelho quase certos de que estavam para testemunhar um dia histórico onde o filme de mais alto orçamento e de maior público nos últimos anos, também marcaria a premiação vencendo todas as categorias que figurava.

Mas cinema não se resume a grandes investimentos e nem tampouco ao clamor popular. Há muito de política na Academia. Seus membros gostam de surpreender, gostam de suscitar discussões. Quando deram a estatueta de “Melhor Diretor” a uma diretora, Kathryn Bigelow, ex-mulher de Cameron, e na seqüência consagraram “Guerra ao Terror” como o filme do ano, direcionaram os olhos do mundo ao Iraque. Eu também despertei. A partir daquele instante me encarreguei da missão de conseguir o DVD da película do ano e ver do que falava Bigelow. Não foi uma missão difícil. As salas de cinema do Brasil também despertaram.

  • Coração-bomba
À “Guerra ao Terror” foi dedicada a primeira sala do cinema. Cerca de 200 poltronas ocupadas, nada mal para um sábado às três da tarde. A impressão inicial é de que a trama se desenrola em torno das tecnologias disponíveis na guerra do século XXI. Errado. Imediatamente fui convencido do contrário. Mais adiante percebi também que nem mesmo trama o filme tem.

“Guerra ao Terror” mostra, simplesmente, mostra.


Uma ficção temperada com o que há de melhor: a realidade. É angustiante ver as cenas de uma guerra que é combatida entre seres humanos e bombas, diferentemente de outros filmes onde a guerra é protagonista e soldados se digladiam.

Em tese, os soldados americanos estão no Iraque com o objetivo de dilacerar o terrorismo daquele país, mas a pergunta que fica ao assistir ao filme vencedor do Oscar é: quem combate o terror vivido pelos soldados?

O personagem central do filme conta a certa altura que já desarmou 873 bombas no Afeganistão e no Iraque, os créditos sobem e ele não consegue desarmar a bomba que a guerra instalou no centro de seu sistema nervoso.

  • Filme em 100.000 dimensões
É regra. Todos os filmes seguem uma receita, um caminho comum com elementos comuns e características essenciais. O desafio, a derrota, a vontade de desistir e a vontade de ressurgir, e enfim, como não? O romance. Em “Guerra ao Terror” o especialista em desarmar bombas que dispensa a tecnologia dos robôs e guarda de lembrança fragmentos dos artefatos que não foram aos ares, tem esposa e filho pequeno. Mas não é esse o romance central do filme, esse é o desafio. O desafio de convencer a família de que a grande paixão da sua vida de soldado é a guerra.

“Avatar” pode ser visto em 3 dimensões, a tecnologia do momento. Já “Guerra ao Terror” deve ser visto em 100.000 dimensões, número de soldados americanos que já passaram pelo Iraque. Afinal, não há tecnologia mais real que a do ser humano.

Comentários

Jaki Barbosa disse…
Caracas!
Ótima análise!
Parabéns, Josuá!

Abraços, obrigada por comentar no Breguetes!
Adorei a analogia. Não vi Guerra Ao Terror, mas quero assistir!

Achei legal o filme ter ganho. Prova de que nem sempre uma bilheteria faz um melhor filme.