Era só por 0,20 centavos, era...

O Brasil é mesmo o país do futebol. Resolveu, meio que por acaso, entrar no jogo em plena Copa das Confederações. Só que num jogo diferente. Uma partida que estávamos perdendo por W.O. há mais de vinte anos. E era um jogo feio. Perdíamos de goleada pra saqueadores do dinheiro público, aproveitadores de status quo, canalhas mesmo. Gente que agenda votação de proposta que muda a Constituição pro mesmo dia da semifinal de uma competição que, em tese, deixaria os brasileiros inebriados. Depois adiaram e depois adiantaram.

Quem acompanhou bem de perto mesmo o trajeto dessa famigerada PEC 37, volte comigo um pouco no tempo, não muito longe, tipo há 20 dias. Naquele momento a proposta que castrava o Ministério Público estava aprovada. Queriam amordaçar o MP que é a representação do povo no poder Judiciário. Há 20 dias o clima era outro. Já havia acordos, conchavos e muito lobby. O povo reclamava, a imprensa deu bom destaque à discussão. Na condição de jornalista eu mesmo ouvi muita gente aqui pelas bandas do Triângulo Mineiro. Promotores e delegados divergiam em suas opiniões, mas ninguém “conseguiu me convencer que [a proposta] era prova de amizade” e ainda seguindo o poema de Renato Russo, o que parecia era que queriam de novo levar embora até o que ainda não tínhamos.

Mas havia também a expectativa canalha de que, cegos pelos gramados dos suntuosos estádios, os brasileiros esquecessem essa "bodega" de PEC 37.

De repente, o Brasil ganha as ruas. A bandeira nacional é vista nas mãos do povo e não é dia de jogo da Seleção. Por 0,20 centavos de aumento na tarifa do transporte público em São Paulo os usuários do sistema desentalam um grito. E nossos políticos - de tão literalmente retardados que são - só perceberam que tudo aquilo era só por 0,20 centavos quando já não era mais. Redução de tarifa não ia tirar nenhum bloco da rua.

Como quem olha pra uma prateleira lotada de livros velhos e empoeirados, o povo do país inteiro escolheu alguns temas pra tirar a limpo. Pra ir além dos 0,20 centavos. E entre tantos absurdos, estava a “PEC da Impunidade”. A grande ideia do deputado federal Lourival Mendes (PTdoB-MA) que se aprovada fatalmente criaria facilitadores para a impunidade num dos países onde há mais impunidade em todo o mundo, sobretudo em relação à corrupção.

Agora, este país não sairá mais das ruas. Estará lá sempre que for novamente roubado, sempre que tentarem “goela abaixo” nos dar espelhos novamente. É que hoje, se tentarmos, vamos conseguir chorar.


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