Não me digam que só a minha turma de colegas de infância realizou o teste de colocar um milho solitário na panela com óleo quente na expectativa de saber quantas pipocas arrebentariam a partir dali. Acho que não fui o único a ter essa ideia. A frase "um milho estoura quantas pipocas" está no recurso de autocompletar do Google, então tem mais gente querendo entender o motivo que faz poucos milhos renderem tanto.
É como na vida. Às vezes a gente se surpreende quando algo que nos acontece rende além da conta. Acreditamos que algumas coisas não iriam durar por tanto tempo, ou não iriam crescer tanto, ou que não ganhariam tanta importância, mas é exatamente o que acontece mesmo que tenhamos colocado tão poucos milhos aparentemente.
Entretanto essa não pode ser uma análise difícil a quem já passou pela expectativa de ficar ao redor de um fogão a gás, perto da panela cuja temperatura logo vai chegar a pelo menos 170ºC, com os olhos ansiosos e fixos num pontinho amarelo, ouvindo o estalar do óleo aumentar. Essa é mais uma experiência da infância que parece só fazer algum sentido na maturidade. É quando temos a percepção mais exata de que nossos projetos, estudos e amores rendem de acordo com o que dedicamos a eles. Se dedicamos um milho, temos uma pipoca.
Porém, tal qual estourar pipoca é um processo da Física, as relações humanas são deliberadamente físicas. Se na panela fervendo observamos transferência de calor, mudança de fase e diferença de pressão, na vida não poderia ser diferente. Nem adianta pipocar.
São muitas as ocasiões em que nos envolvemos com o que, mais adiante, vai nos brindar com incríveis transferências de calor, e de humor, e dissabor. E por melhores que sejam esses momentos, é certo que fisicamente e também Fisicamente a próxima etapa venha a ser uma mudança de fase, mesmo sendo a casca do milho-pipoca mais dura e resistente do que outros tipos de grãos.
É quando entramos em ebulição que mudamos de fase e não deixe que as bolhas ofusquem a visão, porque as novas fases vão te fazer mais leve pra depois te tornar sólido outra vez. Tão sólido a ponto de superar as pressões internas e externas que sempre hão de acontecer. É o momento em que o milho que você colocou pode ou não fazer a diferença já que, vale repetir, os resultados que queremos vão sempre se conformar com o que dedicamos. E se o milho-pipoca que você fez cair no fundo da panela não tinha o que precisava ter, a depender de suas imperfeições e irregularidades, um milho vai render só um piruá.
Muitas vezes conseguimos avaliar nossas ações e experiências só depois de trocar muito calor, passar por várias fases, se sentir um piruá, ou quando mesmo depois de todas as etapas vividas salgamos demais, pesamos a mão, perdemos o ponto. Para algumas dessas avaliações é inevitável concluir: "acabou o milho, acabou a pipoca".
josuá barroso é jornalista formado, possui anos de prática em produzir programas jornalísticos na TV. Há quase dez anos mantém este blog que já sobreviveu à inanição várias vezes. Inaugurou um novo site em fevereiro de 2018, período em que se tornava sólido após mais uma mudança de fase da vida.
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