Filmei uma versão particular da cena final de Toy Story 3, assista

É incrível a identificação que tenho com a sequência de filmes Toy Story. Possivelmente todo mundo que teve uma imaginação com asas na infância - somada a um punhado de brinquedos - também consegue se enxergar no garoto Andy. Eu com um quintal de terra fofa, um rastelo e uma enxada construía estradas. Galhos do pé de jabuticaba se transformavam em árvores inteiras fazendo sombra no mini-caminho que levava do nada a lugar nenhum. Nessa estrada os carros que se cruzavam conversavam entre si. Trocavam ideias e davam dicas sobre os próximos quilômetros.

Eu fui uma criança desse tipo. Inventava uma história e uma personalidade pra cada um dos meus brinquedos. Eles sempre encenavam seus papéis independentemente do que realmente fossem em seus mundos paralelos de quando nenhum ser humano estava por perto. Mesmo bem antes de assistir a Toy Story eu já tinha a mania de chegar de mansinho pra observar se os brinquedos não se mexiam enquanto eu estava longe. Sempre sem sucesso.

Após três filmes incríveis, é nos cinco minutos finais que a gente assiste à cena mais difícil em Toy Story. Andy precisa abandonar seus companheiros de aventuras. O carro dele já está lotado de bagagens e antes de viajar para a cidade onde vai fazer faculdade ele encontra uma criança que aparentemente saberia cuidar de seus amigos. O choro vem fácil e é inevitável.

Woody observa o carro do seu melhor amigo partir depois de uma infância inteira juntos

Eu tive muitos brinquedos. Os mais simples eram os que tinham as maiores incumbências nas minhas criações solitárias. E a maioria deles eram carrinhos. Quando também me mudei de cidade para ir fazer faculdade não deixei a herança pra ninguém. Eu só tinha irmãs e, francamente, não me parecia que elas cuidariam bem daquelas minhas lembranças. E não cuidariam mesmo. Quando voltei a mexer nas minhas coisas anos depois, vi que muito havia se perdido ou estragado porque alguém mexeu sem eu saber. Mas o que sobrou eu tenho conseguido guardar até hoje.

Tenho um sobrinho. Ele é um barato. O Davi é meu afilhado e o primeiro homem da família desde que eu nasci há quase 30 anos. Nós dois dividimos a vida com sete mulheres incríveis. Ele é completamente apaixonado por carros e carrinhos. Já o levei numa loja de brinquedos e falei que ele poderia escolher qualquer coisa que quisesse e o garoto optou por um carrinho daqueles mais simples e pequenos. Acabou levando dois.

Meu sobrinho-afilhado Davi curtindo o fim de semana adoidado

Passei esse fim de semana inteiro com o Davi. Passeamos pelo zoológico, aprendi demais com as perguntas dele. "O que eles comem?", "Ele está triste?", "Por que ele fica parado assim?". É fantástico o quanto podemos entender da vida conversando com quem ainda tem a mente limpa de tristezas, frustrações e medos reais.

Então resolvi fazer uma experiência. Peguei aquela velha caixa amarela de papelão que ocupa um lugar escondido bem no fundo de um armário. Quando disse a ele que eu ainda guardava os meus carrinhos da infância, os olhinhos brilharam. Ele que estava distraído girando na cadeira de escritório e imediatamente se interessou pela caixa. Levantou o corpo pra tentar espiar o que tinha lá dentro. Aí deixei a caixa nas mãos dele. Eu gravei essa versão particular da cena final de Toy Story 3 pra publicar aqui junto desse texto. O vídeo complementa esse artigo.


E pra quem curtiu essa relação padrinho-afilhado, separei mais dois momentos do fim de semana.

josuá barroso é jornalista formado, possui anos de prática em produzir programas jornalísticos na TV. Há quase dez anos mantém este blog que já sobreviveu à inanição várias vezes. Inaugurou um novo site em fevereiro de 2018.

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