Você já parou pra pensar em quantos políticos andam se "desgastando" com opiniões polêmicas e até mesmo absurdas de uns tempos pra cá? Os recentes acontecimentos na área de segurança pública abriram as comportas para uma avalanche de chorume nas redes sociais, muitas vezes com posts produzidos e replicados por ocupantes ou postulantes a cargos eletivos no próximo outubro.
Um dos casos recentes dessa prática foi a interação do deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) no Twitter. Em meio a uma comoção nacional pela execução da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista dela Anderson Gomes, o parlamentar se apressou para disseminar fake news acompanhadas de um julgamento particular carregado de ódio. Mesmo alertado de que as informações eram falsas, o deputado insistiu na abordagem.
Este blog não vai reproduzir as publicações de Fraga por se tratarem de desinformação, além de falta de respeito. Após intensa discussão via Twitter, o próprio deputado resolveu apagar as mensagens que publicou.
Esse assunto já gerou muita polêmica! Tenho uma missão mais importante do q ficar discutindo e brigando com pessoas q ñ comungam com meus pensamentos! Vamos deixar a Polícia trabalhar e com certeza essas acusações, de ambos os lados, serão sanadas. Como prova, vou retirar o post.— Alberto Fraga (@alberto_fraga) 17 de março de 2018
Um colega de Câmara da vereadora Marielle Franco, Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) também não pensou duas vezes ao compartilhar a notícia (infelizmente real) da morte de Carlos Henrique Pinto, o pai que foi assassinado na frente do filho, uma criança de 5 anos, também no Rio. A indignação com o caso é absolutamente compreensível e tenho certeza de que a maioria dos cidadãos de bem do país se comoveram sinceramente com mais esse acontecimento revoltante. Mas a aptidão de alguns políticos para a polêmica inútil parece ser irresistível. Junto à notícia, o vereador acrescentou um comentário onde diz que "ninguém verá a ONU se manifestar por isso". Uma provocação gratuita e desnecessária. Fizesse ele, na condição de representante da cidade do Rio de Janeiro, a ONU ou outras instituições e até mesmo eleitores dele se mobilizarem em torno deste ou de qualquer outro crime, independentemente de quem seja a vítima.
É o caso de nos lembrarmos da ocasião em que o rei da Espanha se dirigiu a Hugo Chavez durante a Cúpula Ibero-americana de Santiago, no Chile, em 2007 e perguntarmos a eles: por que não se calam?
Por que cada vez mais tem surgido agentes públicos investidos de mandatos dispostos a disparar comentários de qualquer natureza, por mais absurdos que sejam, só para aparecerem e gerarem repercussão em redes sociais e alguns veículos de imprensa?
Não se trata aqui de censurar o contraditório. Mas é preciso que qualquer eventual posição destoante à ampla comoção que vive o país seja respeitosa, coerente, calcada em fatos e útil. É preciso que realmente haja o contraditório. E que seja completamente livre de polarizações que não colaboram em nada para a solução do crime e menos ainda para que o Rio e o Brasil aprendam a lidar com esse grave problema da (falta de) segurança.
Eu não conhecia o trabalho de Marielle Franco. Ela foi eleita vereadora com expressiva votação na segunda maior cidade do país, mas eu não a conhecia. Ela lutou anos sem parar pelos direitos humanos e eu não a conhecia. Ela foi importante e reconhecida por várias minorias e mesmo assim eu não a conhecia. Ela se juntava a familiares de policiais vítimas de assassinatos no Rio de Janeiro pra cobrar justiça e eu não a conhecia. Por isso até resisti em escrever qualquer coisa que mencionasse o nome dela com o receio de não parecer mais um desses oportunistas. Mas infelizmente, eu conheço muito bem de nome, sobrenome, partido e ficha corrida vários desses sujeitos de cargo eletivo que vêm despejando seu ódio durante toda essa situação. E esses caras sabem disso.
Talvez seja por isso que eles não podem ver uma vergonha e vão correndo pra passar, como se diz no linguajar dos mais jovens nas redes sociais. Uma camada poderosa de políticos identificou o ódio latente em vários de nós e entendeu que ao explorar esse ódio eles podem continuar a se eleger. Eles recebem inúmeras críticas, repulsa e reprovação de muita gente - isso é verdade. Ainda bem. Entretanto assumem um risco milimetricamente calculado de se tornarem plenamente conhecidos graças à quantidade diretamente proporcional de merda que sai do cérebro deles.
E com tamanha repercussão de suas idiossincrasias, esses políticos acabam por encontrar eleitores, apoiadores, divulgadores e seguidores inebriados pela ignorância que domina um país onde a educação nunca foi prioridade.
O "grande negócio" desses políticos é estar nos noticiários, nos sites e nas redes sociais a qualquer custo. Quanto mais eles aparecem graças à suas absurdas e inacreditáveis colocações, menos pessoas como Marielle Franco têm espaço semelhante. A ponto de eu mesmo, mea-culpa, conhecer em ordem alfabética a lista desses homens e mulheres que utilizam do expediente do ódio, enquanto nunca tinha ouvido falar em Marielle. Até anteontem quando, pela partida, Marielle se fez presente.
Marielle, presente.
Anderson, presente.
Carlos Henrique, presente.
Hoje e sempre.
O nível baixo também é perceptível entre inumeráveis políticos de todos os tipos de ideologia que não se contêm e utilizam esse momento deplorável para levantar suas bandeiras, atacar adversários, capitalizar eleitoralmente e transformar a comoção em nojo. Eles acabam por distrair os cidadãos (e eleitores) com os efeitos em detrimento da causa.É surreal! Mais um pai assassinado se torna mais um em meio a mais de 60 mil assassinados por ano (índices maiores que de guerra), mas ninguém verá a ONU se manifestar por isso. Deus nos proteja!. https://t.co/ZbXKMBK3YQ— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 16 de março de 2018
É o caso de nos lembrarmos da ocasião em que o rei da Espanha se dirigiu a Hugo Chavez durante a Cúpula Ibero-americana de Santiago, no Chile, em 2007 e perguntarmos a eles: por que não se calam?
Por que cada vez mais tem surgido agentes públicos investidos de mandatos dispostos a disparar comentários de qualquer natureza, por mais absurdos que sejam, só para aparecerem e gerarem repercussão em redes sociais e alguns veículos de imprensa?
Não se trata aqui de censurar o contraditório. Mas é preciso que qualquer eventual posição destoante à ampla comoção que vive o país seja respeitosa, coerente, calcada em fatos e útil. É preciso que realmente haja o contraditório. E que seja completamente livre de polarizações que não colaboram em nada para a solução do crime e menos ainda para que o Rio e o Brasil aprendam a lidar com esse grave problema da (falta de) segurança.
Eu não conhecia o trabalho de Marielle Franco. Ela foi eleita vereadora com expressiva votação na segunda maior cidade do país, mas eu não a conhecia. Ela lutou anos sem parar pelos direitos humanos e eu não a conhecia. Ela foi importante e reconhecida por várias minorias e mesmo assim eu não a conhecia. Ela se juntava a familiares de policiais vítimas de assassinatos no Rio de Janeiro pra cobrar justiça e eu não a conhecia. Por isso até resisti em escrever qualquer coisa que mencionasse o nome dela com o receio de não parecer mais um desses oportunistas. Mas infelizmente, eu conheço muito bem de nome, sobrenome, partido e ficha corrida vários desses sujeitos de cargo eletivo que vêm despejando seu ódio durante toda essa situação. E esses caras sabem disso.
Talvez seja por isso que eles não podem ver uma vergonha e vão correndo pra passar, como se diz no linguajar dos mais jovens nas redes sociais. Uma camada poderosa de políticos identificou o ódio latente em vários de nós e entendeu que ao explorar esse ódio eles podem continuar a se eleger. Eles recebem inúmeras críticas, repulsa e reprovação de muita gente - isso é verdade. Ainda bem. Entretanto assumem um risco milimetricamente calculado de se tornarem plenamente conhecidos graças à quantidade diretamente proporcional de merda que sai do cérebro deles.
E com tamanha repercussão de suas idiossincrasias, esses políticos acabam por encontrar eleitores, apoiadores, divulgadores e seguidores inebriados pela ignorância que domina um país onde a educação nunca foi prioridade.
O "grande negócio" desses políticos é estar nos noticiários, nos sites e nas redes sociais a qualquer custo. Quanto mais eles aparecem graças à suas absurdas e inacreditáveis colocações, menos pessoas como Marielle Franco têm espaço semelhante. A ponto de eu mesmo, mea-culpa, conhecer em ordem alfabética a lista desses homens e mulheres que utilizam do expediente do ódio, enquanto nunca tinha ouvido falar em Marielle. Até anteontem quando, pela partida, Marielle se fez presente.
Marielle, presente.
Anderson, presente.
Carlos Henrique, presente.
Hoje e sempre.
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Foto: Mário Vasconcellos / CMRJ / novembro/2017 |
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